A dependência de jogos digitais é o subtipo de dependência de internet mais estudado na literatura científica. Isso reflete o reconhecimento cada vez maior de que seu uso excessivo pode ter um impacto negativo na saúde mental e física das pessoas, como piora de sintomas de depressão e ansiedade, alterações de sono, isolamento social, conflitos interpessoais, sedentarismo, piora no desempenho escolar, entre outros.
Em 2013, a dependência de jogos digitais foi incluída como uma “condição que merece mais estudos” na seção 3 da 5ª edição do Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM-5), com o nome de “Transtorno do Jogo pela Internet”. Em 2019, foi reconhecida como um diagnóstico oficial na 11ª edição da Classificação Internacional de Doenças-11 (CID-11), com o nome de “Gaming Disorder” (ainda sem tradução oficial para o português). Desde então, a expressão “Gaming Disorder” tem sido a mais utilizada na literatura científica para se referir a dependência de jogos digitais.
De acordo com a CID-11, para ser diagnosticado com Gaming Disorder, um indivíduo deve apresentar todos os seguintes critérios durante pelo menos 12 meses:
- Perda de controle sobre o jogar (relativo ao início, frequência, intensidade, duração, término e contexto). Nesses casos, a pessoa começa a jogar antes do que tinha combinado, joga por mais tempo do que poderia ou tinha planejado, não consegue parar de jogar na hora estabelecida, acaba jogando em situações que deveria estar fazendo outras atividades, etc.
- Aumento de prioridade dada ao jogar ao ponto de se sobrepor a outros interesses e atividades diárias. Isto é, o jogo acaba assumindo o lugar e a importância de atividades essenciais como dormir, se alimentar, estudar/trabalhar, se relacionar com familiares e amigos, etc.
- Continuação ou mesmo aumento do jogar apesar da ocorrência de consequências negativas. Este padrão de comportamento é de intensidade suficiente para resultar em prejuízo significativo em nível pessoal, familiar, social, educacional, ocupacional ou em outras esferas da vida. A ocorrência obrigatória de prejuízo significativo decorrente do jogar é fundamental para diminuir o risco de se diagnosticar incorretamente pessoas que jogam de maneira saudável – mesmo que intensa – e que não apresentam qualquer prejuízo em função desse comportamento, uma vez que se trata da grande maioria dos jogadores.